Quando me preparei para entrar na sala de aula e percebi que eles estavam me esperando de pé não pude conter as lágrimas. Me transportei imediatamente há muitos anos antes, quando eu, então uma “formiguinha” de 10 anos, trocando de mão entre papai e mamãe entrava na escola que me parecia enorme. Não tinha ainda consciência de que “levava nas mãos o futuro de uma grande, brilhante nação”.

Tudo parecia pesado e estranho. O uniforme sobrava e alguém havia me dito que eu ia virar “café globo”. Alguns colegas me pareciam assustadoramente enormes, e outros carinhosamente muito mais sabidos. Quando os professores faltavam eles iam nos dar aulas. Algumas vezes, eu chegando na escola cedinho, era recebida por um grupo que me parecia valente como nas histórias de conto de fada. Eles diziam à minha mãe: “tia, leva ela pra casa porque hoje vai ter passeata”.

Um dia, sem que eu entendesse bem porque, eles sumiram. Para onde teriam ido os rapazes grandes da então “Seção Norte”? As passeatas acabaram, mas não o espírito do colégio.

Eu fui crescendo e pulei o muro da linha do trem para ir à Quinta da Boa Vista com os colegas festejar a formatura no então ginásio. Não sem antes haver lido vários exemplares do “Pasquim” e cantado muitas canções do Chico e do Vinícius.

Eu bem que tentei sair desta escola. Tentei. Chegou uma época em que eu e meus pais achávamos que eu deveria cursar Normal. Saí, fiquei uma semana na outra escola. Mas não deu certo, graças a Deus!

Daí eu me mudei para São Cristóvão, que me pareceu de novo assustadoramente enorme. Porém, no final foi onde fiz vários de meus melhores amigos até hoje. Isso depois de matar várias aulas (de todas as matérias, pois eu sempre fui democrática). Às vezes para assistir o futebol dos meninos, muitas vezes para treinar no time de basquete das meninas e algumas vezes porque... ah, porque sim! Porque estávamos lá, e nossos corações batiam forte.

Sair, foi difícil. Muito. Eu tive que ir à três bailes de formatura seguidos para me convencer de que era hora de cortar o cordão umbilical. Mas que nada, mal sabia eu...

Que voltaria mais tarde, para a mesma Seção Norte que agora já se chamava Unidade Escolar Engenho Novo II, desta vez como professora. Seria carma ou o quê? Não interessa, a escola continua me parecendo enorme, mas eu percebo também o quanto são enormes nossas almas e nossos corações. Os meninos de lá, que às vezes me dão a impressão de que não dão muita atenção para esta história de “rasgar estradas de luz na amplidão”, continuam aprontando todas as travessuras possíveis. Às vezes pode dar impressão de que eles desdenham, de que este tipo de tradição já não teria mais espaço em um mundo tão corrido e superficial. Mas ano após ano eu assisto o desfile de novos rostinhos ansiosos, seguidos de seus papais e mamães mais ansiosos ainda, na esperança de em breve ouvir alguém dizer “puxa, você estuda lá?”

É, só posso lamentar por quem não conheceu. Eu posso dizer que tive – e tenho -  a honra, a primazia. Coisas que só quem também teve pode entender. E de uma coisa estou absolutamente certa: este colégio a gente nunca esquece.


Por: Tânia de Oliveira Panaro do Nascimento

Aluna da Unidade Escolar Engenho Novo II (antiga seção Norte) entre 1967 e 1970

Aluna da Unidade Escolar São Cristóvão III entre 1971 e 1973.

Professora da Unidade Escolar Engenho Novo II desde 1992.


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